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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O´Brien – water slide



O canal é apenas uma linha azul no mapa usado e desfeito, uma relíquia sobrevivente
A linha azul aparece do nada, porque o mapa tem fronteiras, cabos das tormentas de onde os exploradores não temem atravessar.
Acaba e pronto.
Para lá chegar foi preciso comer um pastel de nata no café Lisboa, atravessar a linha do comboio do expresso para um lado nenhum, descobrir que havia, debaixo da linha, um barracão que parecia ser a filial local dos lagartos, sábado salmão grelhado e bacalhau com espinafres, rascunhado a giz branco em ardósia preta, fundado em 1980, um leão encardido e um número de telefone de call girl 02089683069, definitivamente underground.
Mas depois de uma escada de caracol, locais de camisa interior numa varanda rebaixada sobre o canal, e felizmente não há comportas porque senão molhavam os pés, olhares desconfiados porque na ponta do canal não é suposto haver estrangeiros.
Sim, estrangeiros, mas num conceito londrino o estrangeiro pode ser o local, o londrino, o inglês, é muito fácil perceber em que sítio não estás.
Mas afinal há vida no canal
Três horas e meia depois a linha azul do mapa transformava-se num grande oceano sem fim nas nossas pernas, porque afinal havia dobras no mapa que haviam desaparecido e as curvas do canal, que eles chamam desgraçadamente de pequena veneza, empurravam a linha de água para norte, e então atravessávamos o grande parque do Jardim Zoológico e voltávamos a reconhecer a civilização, ninguém aqui mais vive em barcos, um bairro de casas vitorianas e agências imobiliárias, londrinos que não são estrangeiros, pelo menos aqui, e entrámos no primeiro bar de esquina que tinha portas abertas, mas não tinha gente porque aqui, no bairro, multidões não eram permitidas.
Sentámos-nos de pernas penduradas em bancos pernaltas e pedimos cerveja.
O empregado era ruivo e sardento, demasiado desconjuntado para inglês pois então, adivinhei-lhe uma personalidade celta porque era prestável e não tinha a certeza de tudo (nem de nada) e a música de fundo não enganava. Afinal de contas fazia todo o sentido que a banda sonora fosse riverdance e os donos do bar irlandeses.

O’Brien, portanto!



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