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sábado, 11 de abril de 2015

O território de um Deus alternativo




Odemira é o fim da carreira, é o princípio do território do fim do mundo.
Já foi assim, hoje é um pouco como se ainda fosse assim.
A ponte branca que se eleva por cima do rio Mira, marca o princípio de um território, o Alentejo do Sudoeste, um território com uma heterogeneidade muito própria.
Não é interior, porque é fustigado por um mar azul intenso
Não é litoral, porque tem poucas casas, tem campos que cheiram a estrume de tão cultivados, tem estradões que parecem nuvens, ruídos de campo, mosquitos de charco, sentimentos encardidos de tanto pó.
Verde dos campos
Vermelho das estradas
Azul do mar.
Ao meio-dia das redondezas de Odeceixe, o Sol mantém-se discreto, o vento oeste sopra no vale e está frio.
Silêncio no mar de Odeceixe e uma neblina de fora de estação
Ao meio dia, a caminho da estrada de Rogil, chegam os autóctones às tabernas à procura de almoço.
Grandes botas de borracha com resquícios de bosta, barba por fazer, olhares de extraterrestre em terra própria, enterrados em barbas profundas e olheiras mal dormidas
E depois chegam os outros, os putos bronzeados oriundos de uma qualquer capital, enrolados num qualquer Saxo e em mortalhas de uma substância qualquer, provavelmente a verdadeira quilha da prancha de surf.
Mais a Sul, em Aljezur, outros encardidos que procuram tapear às cinco da tarde e o taberneiro que lhes responde que as ovas só voltam amanhã e assegura, a todos os que o querem ouvir, que tem um serviço ao domicílio para entrega de bêbados em casa, desde que eles se enfrasquem no local.
Seres que não se vêm em mais lado nenhum, ou será que este ar de fim do mundo os vidra os olhos?
Ainda mais a Sul, na Arrifana vivem os campeões do surf na areia, e aqui juntam-se todos os anteriores (à excepção dos lavradores), ondas, mundos de gente, tão diferentes que não se destacam nacionalidades nem comportamento especialmente bizarros.
Sobra apenas a comunidade das estufas.
Na nova centralidade de s. Teotónio, vemos chegar as carrinhas de filipinos, cingaleses e outras nacionalidades impensáveis no sudoeste da europa, que entopem o grande supermercado da zona de cheiros intensos, olhares que perfuram as mulheres louras, olhares que despontam das peles muito escuras e que só se conhecem no Oriente longínquo.
Na rota das novas especiarias, pelas redondezas da Azenha do Mar, os mares de plástico escondem vidas muito errantes e precárias por detrás de vedações ostensivas, carrinhas brancas que circulam vazias nas estradas de acesso, muito desconforto perante tal dissimulação.
O Sudoeste não é paraíso homogéneo

O Sudoeste é o território de um Deus alternativo!


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