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domingo, 29 de março de 2015

Walking distance I - passos perdidos

Quando caminhamos pelas ruas à procura de histórias temos sempre uma sensação de que estas não terão nunca um final coerente - seja ele qual for -  porque só conseguimos decifrar o que os transeuntes nos deixam ver, ficando sempre a imaginar que vidas eles transportam entre o nosso enquadramento e a paisagem que não se vê.
Por isso, muitas vezes procuramos apenas vultos e sombras, porque é mais fácil assim não nos envolvermos com o que as suas vidas escondem.
São os passos perdidos!

Azulejos


Chovia na cidade, e os chapéus abertos escondiam as expressões dos transeuntes que procuravam abrigar-se do temporal . A idosa acabara de atravessar a passadeira e encaminhou-se sozinha para o lado direito da objectiva, separando-se da multidão, protegida pelo sinal vermelho, e na companhia dos sinais da cidade. Em passo lento, mas firme, indiferente aos azulejos da igreja de S. Francisco

( Porto , Março de 2014 - Largo dos Leões)


Paragem de autocarro


Entre os prédios cinzentos da cidade sem graça, descobrimos um pedaço de muro quase em ruínas que sugeria que a vida já tinha passado por ali...foi só esperar que passassem os primeiros passageiros

( Porto, Março de 2014 - Rua José Falcão)

A luta na fábrica


A fábrica descobre-se ao anoitecer, quando as luzes se acendem, mas ela não quer ouvir e desaparece do ponto de focagem sem que eu lhe consiga perguntar o que pensa ela da luta.

(Lisboa, Novembro de 2014 - LX Factory)



Espera por mim!


Encostei-me à parede e deixei que tu te intrometesses entre os reflexos da chuva e a solidão da desconhecida. Assim, para além do paralelismo óbvio, procurei aliviar a solidão do vulto distante.

(Porto , Dezembro de 2014)


A travessia do milénio


Nove horas da manhã na cidade em constante construção e todos temos pressa para chegar a um qualquer lugar. Respirei a neblina da grande urbe e apontei na direcção do jovem que parecia querer fugir da paisagem se me aperceber que ele era o maestro da multidão de seres que atravessavam o milénio.

(Londres, Setembro de 2014 - Millennium Bridge)


Aldeia abaixo


Aquela luz por cima dela fazia toda a diferença  na escura noite do Alentejo, porque assinalava a presença humana numa calçada que insistia em se esquivar na direcção da planície

(Évora - Março de 2015)


Estrangeiros


O que me atraiu foi o brilho do mosaico, provocado pela luz do fim da tarde. Subitamente ouvi vozes nas minhas costas de um dialecto eslavo que se apressava na direcção do centro da cidade, e esperei que eles se atravessassem na minha frente, e imaginei quanto teriam andado para aqui chegar...onde o chão brilha e a luz enriquece!

( Málaga, Março de 2015 )


Passos perdidos


No Palácio do Imperador, as pedras polidas pelo andar de milhares de anos, sugerem tempos de glória, de tragédia, de reclusão, de abandono e de ressurreição entre os muros das muralhas.
Precisava apenas de pernas que furassem a luz mas não ofuscassem os reflexos na pedra irregular

( Split, Julho de 2014 - Palácio de Dioclesiano


Não há passadeiras no canal


Na cidade das bicicletas um peão só se faz respeitar se circular nas ruas pela faixa da direita, cruzando as passadeiras com se se tratassem de grafitti, na perpendicular...

( Amesterdão, Abril 2014)

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