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terça-feira, 27 de agosto de 2013

O bando dos quatro - Parte 4/4


E na manhã seguinte, o sapo gramofone descobriu um mundo novo, novos sons que se adivinhavam atrás dos muros brancos, que ele não podia ver, mas ouvia e, pelos sons, sentia-se longe: o amolador de facas pedalava no beco assoprando numa tão aguda gaita que assombrava o sossego das redondezas, as bilhas de lata que chocalhavam na quintinha da Dona Ana, sinónimo de vaca ordenhada, a única que a velha ainda guardava entre os exíguos pastos que se acercavam dos prédios e a barraca indómita de onde ela, e a vaca, pareciam renascer todos os santos dias.
Depois, apenas escuridão e silêncio – na ótica batráquia, bem entendido – afinal de contas, as bases científicas do Einstein eram consistentes e a inalação do composto anestesiante transformou o gramofone (o sapo) numa bela adormecida, tão real o efeito quanto qualquer filme de animação, produzido pelo cinema americano (mais tarde viriam os desenhos animados checoslovacos, esses menos realistas e mais alternativos) que durou até que as gotas de suor do enrascado Einstein o acordaram da (seca) letargia de anfíbio fora de água.
Mas aquelas faenas no pátio da escola primária não passaram despercebidas aos rivais da rua de cima. Na noite seguinte, em que os diplomados Einstein, Juiz, Passarola e Moshe já se interrogavam (cada um para si e todos com ninguém) o que fazer com o sapo que já dava trabalho que chegue para humedecer permanentemente aquela fria pele de réptil, e era preciso arranjar uma solução que não lhes estragasse a reputação, e os pais que não os largavam com as sábias advertências de que aqueles esbugalhados bichos tem venenos tóxicos (vejam lá bem a cena), a solução veio dos fanáticos rivais da rua de cima.
Bem pela noite dentro (os básicos bárbaros da rua de cima viviam sob um controlo parental bem mais frouxo, uns verdadeiros selvagens) saltaram os muros de metro e meio, vandalizaram a improvisada gaiola do sapo, espezinharam as plantas que, por ali cresciam selvagens, e raptaram o atónito gramofone que, desta vez, pouco se queixou porque o instalaram numa caixa de plástico (fechada é certo) repleta de água e mosquitos e a única dissonância na rescue box era aquela palmeira de plástico, espetada no meio do lago, que desvendava a sua origem como um remoto lar de uma qualquer tartaruga centenária, fugitiva dos maus tratos impostos por algum dono menos zeloso.
Suspeita-se que a ação de resgate no quintal dos caracóis tenha sido uma afirmação de força da turma concorrente e com um objetivo preciso de obrigar o bando dos quatro a engolir os sapos do seu atrevimento.
Provavelmente o gramofone foi despejado novamente na cova dos sapos – há testemunhas oculares pouco fiáveis que garantiram este destino – mas nenhum dos membros do bando se mostrou particularmente entusiasmado em procura-lo; as férias estavam a chegar e as novas ideias brotavam-lhes da mente com uma velocidade tão alucinante que já só pensavam nas expedições à terra do Sal, nos mergulhos na lodosa praia fluvial, na operação especial de vigia aos aviões da base aérea…
Numa madrugada da Primavera seguinte, vieram os tanques e os soldados a sério e invadiram o solitário e isolado reino de batráquios, transpuseram os montes e enxugaram o pântano, prenderam o rei sapo e exilaram os seus súbditos para um lago longínquo.
Começava a revolução dos cravos!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O bando dos quatro - Parte 3

Pela estrada real fora, evitando os ruídos e de lanternas apagadas, as bicicletas dos quatro ao anoitecer, ainda com uma pontas de céu avermelhado, sentiam-se os justiceiros do faroeste e depressa se acercaram do local de combate.
Lá em baixo no charco, a família de sapos, chapinhava tranquila no lodo húmido do vale, confiantes que depois do pôr-do-sol não haveriam visitantes indesejados que interferissem entre as suas compridas línguas e os milhares de mosquitos que pululavam por todo o lado.
Com um toque no braço do Einstein, Moshe apontava para o rei sapo, que se pavoneava na pequena poça de água que sobrevivia ao Verão. “Vocês distraem-no e a gente apanha o júnior, o gramofone, é para ele que vocês apontam a lanterna”
E o ataque foi relâmpago. Na desorientação das luzes apontadas nos múltiplos olhos dos batráquios, cercados pelas sombras do terror juvenil, o Passarola jurava no rescaldo que eles chocavam uns com os outros, pareciam baratas tontas, e o juiz, o dono do camaroeiro atacou o sapito, tão atarantado que tinha fugido diretamente para dentro da rede.
“Já está” – gritou triunfante – Podemos zarpar
O ambiente no charco após ataque devia ser dantesco, apesar de ninguém lá ter ficado para contar, mas também não era preciso, porque a excitação e adrenalina levava cada membro do bando dos quatro a exacerbar a bravura do feito – afinal de contas tinham sido quatro humanos contra seis sapos – e rezam as crónicas que o Moshe terá revelado, no posto de comando, situado no quintal do Passarola, qua as colunas de fogo subiam mais alto que os montes Golan.
“Não seria antes a poeira das nossas bicicletas?” – O Juiz decidiu estragar a satisfação do Moshe, aliás desnecessariamente, porque todos eles sabiam que não havia bombas – nem de mau cheiro – no arsenal do bando dos quatro, mas uma boa história deve conter ingredientes especiais.
O Einstein era o único que se preocupava apenas com os aspetos práticos associados a este rapto. Enquanto prendia as pernas ao sapo com uma linha quase invisível, “Não estragues o bicho” – resmungava o Passarola – “Senão não tem piada!”, o batráquio olhava para ele de olhos bem esbugalhados, sem piar nem se mexer, “Está vivo?” – perguntava o Moshe, “Sim, bem vivo, e o que fazemos com ele amanhã?”
Olharam uns para os outros “Não o podem deixar por aqui à solta no quintal, a tarde toda”
O pobre sapo não entendia de todo o que se passava, Enjaulado numa gaiola de pássaro, com um prato cheio de mosquitos mortos à sua frente, encharcado até às entranhas de um duche de mangueira que deixara este quintal cercado de muros brancos como uma gigantesca poça de água – na dimensão do sapo, bem entendido – abandonado e longe da sua família anfíbia, cercado de caracóis e de ervas daninhas, o batráquio sentiu-se verdadeiramente infeliz. Só as estrelas eram iguais

domingo, 25 de agosto de 2013

O bando dos quatro - Parte 2

Não fui eu! – Protestou o cientista júnior, apontando para o desenho e para a poça que agora esborratara a folha de papel, perante os múltiplos olhares reprovadores de quem havia decidido que, aos nove anos, não havia lugar para estas ousadias
Mas era impossível não ser obra do E., porque sapos não saltam de desenhos coloridos e a mancha de água não era o charco do sapo mas sim da lágrima exasperada de um pintor fracassado e nem nas histórias de encantar os desenhos ganham vida durante o exame da quarta classe.
Os outros putos da trupe entreolhavam-se, divertidos pelo sapo gramofone que agora trepava paredes, soltava ruídos guerreiros e depois olhava fixamente o horrorizado mestre-escola, de cima da carteira do jovem estudante com vocação geopolítica, mas desconsolados porque parecia comprometido o troféu de guerra do fantástico assalto ao charco de ontem à noite.
Sim, algo devia ter corrido mal, porque o Einstein assegurara que o batráquio não se escapuliria do bolso direito do seu casaco de fazenda – que o assava em pleno Junho, mas a causa o exigia – porque, na mesa de experiências da cabana do quintal tinha-lhe administrado uma dose de clorofórmio que dava para adormecer toda a sapolândia, bom, julgava ele!
E, perante o olhar interrogativo do juiz imperfeito, encolheu os ombros sem resposta científica para este acontecimento procurando, com cada um dos seus olhos saltitantes, controlar os estragos, como iria ele recuperar o sapo, convencer o mestre-escola que era apenas um acidente e que, por isso, não merecia ser condenado com um humilhante chumbo e umas orelhas de burro no canto da sala, a não ser que fosse no mesmo canto onde o grafonola se refugiasse.
Passarola voadora, o quarto membro do gang dos putos assaltantes de charcos, era mais aéreo que todos os pássaros da rua deles mas, num assomo de clarividência, tomou a decisão certa; entre o troféu de guerra e o exame final, optou pelo último, pegou rapidamente no anfíbio grafonola – que, fazendo jus ao seu cognome, não parava de emitir sons roucos e histéricos – e lançou-o janela fora, para o campo de futebol empoeirado que havia de petrificar o dito sapo, e dar-lhes tempo de recuperá-lo.
Tão rápido o fez que acalmou a ira dos mestres, tirou o pio ao sapo, recompôs os amigos e contribuiu decisivamente para salvar a carreira académica do bando dos quatro.
E enquanto recebiam as festas e os diplomas da família, dos (agora) tiranos mestre-escola, a bênção do especial convidado Padre Manuel, de tão pitosga nem se tinha apercebido da epopeia dos sapos, E. recuperava na memória a epopeia da noite anterior (e o passarola o sapo grafonola, discretamente repescado da imobilidade – ele, passarola, sabia – da poeira do recreio e da sombra salvadora da figueira que, por ali, algum dia alguém tinha plantado)
Tinha sido um momento épico, cuidadosamente planeado sobre a supervisão do puto com vocação geopolítica – o seu verdadeiro nome, salvo as conotações (aliás por todos eles desconhecidas), Moshe Dayan, o estratega da guerra dos seis dias – que, nestes momentos de glória, não dispensava a pala no olho, em recorte cuidadosamente elaborado do resto de umas calças de ganga boca-de-sino, esfarrapadas após muitos anos de combates de rua, emboscadas aos putos da rua de cima e expedições na poeirenta estrada real, para os mais ignorantes a pala do pirata da rua de baixo.
Apesar de ser véspera do famigerado exame, e o juiz imperfeito – assim apelidado pelos mais velhos da rua, os experimentados liceais e malfeitores da rua de cima, porque o pai era juiz e o puto tinha uma testa demasiado saliente e pronunciada – insistir que o dia não era o melhor, os pais iriam questionar-se desta saída noturna e era preciso rever as mastigadas matérias que tinham sido treinadas em múltiplos ensaios parciais e gerais,
(toda a gente sabia, afinal de contas viviam numa aldeia, quais eram os problemas, o tema da redação e do desenho sobre os quais iriam prestar provas amanhã, ninguém duvidava que no exame da quarta classe ninguém chumbava porque os burros, os lorpas que não eram capazes de soletrar ou escrever duas palavras seguidas sem erros, esses, não eram convidados a prestar provas) 

Passarola, porque era alto como uma avestruz, cabeça pequenina e passava a vida a sonhar, não se sabia bem com o quê (havia quem jurasse que a alcunha tinha alguma coisa a ver com o professor pardal) tinha sido o principal apoiante do Moshe, “Tem de ser hoje, porque é lua nova” e o Einstein percebia bem as vantagens de atacarmos os manhosos dos sapos numa noite de lua cheia, “É o efeito surpresa, entramos na poça pelos montes Golan, dividimo-nos em dois grupos, o Einstein e o Passarola pela direita com as lanternas prontas e nós pela esquerda com o camaroeiro em riste”, eram as ordens do Moshe.

sábado, 24 de agosto de 2013

O bando dos quatro - Parte 1/?



Ele olhou para o desenho e teve vontade de chorar. Era pavorosa a composição de cores berrantes que mal preenchia aquela folha de linhas com uma dobra à direita, que o separava a punitiva prisão que se chamava primária da primavera libertadora que adivinhava no ciclo preparatório.
Mas uma lágrima fortuita foi o suficiente para dar vida àquele borrão de cor a que o solene e assustador júri chamava de prova de desenho. E logo a folha de papel ganhou relevo e, entre montes, arvores e aquela casinha tão primitiva quanto tortuosa (até a chaminé fumegava direita ao Sol) a poça transformou-se em lago e emergiu a cova dos sapos, tão reais eram os sons dos sapos aos saltos que ele se assustou, naquela carteira de sala de aula, uma combinação de cadeira e mesa castanhas, de inclinação vertiginosa para as inseguranças dele e para os lápis que não cabiam na ranhura a eles dedicada
E um sapo saltou da poça, da folha de papel, do desenho inacabado e infeliz, salpicando as lunetas arquejantes e bem construídas do menino Einstein.
Saltou da poça, a única superfície molhada da cova dos sapos, um acidente físico de origem desconhecida, repleto de dunas arenosas e um patético charco, que evoluía entre uma sombra de lodo e uma piscina infantil, natural é certa, mas suficiente para manter ativos os seis sapos que, por ali, tinham decidido permanecer, bem para além dos Invernos rigorosos de outrora
Mas havia lei e ordem no charco: havia um rei, o rei sapo, e a miudagem que preparava romarias ao longo da poeirenta estrada real, logo o tinham identificado no alto do seu grande papo, papo de sapo bem entendido, papo de rei repetiam os putos, habituais salteadores destas remotas paragens.
Bem, remotas para quem tem nove anos e umas bicicletas tão remendadas quanto os seus joelhos, que os calções não escondem e os travões não travam!
Do cimo dos montes Golan – um dos putos tinha vocação geopolítica, e esta linguagem militar pretendia identificar, sem equívocos, o ponto mais alto do mundo dos sapos - avistava-se, se bem que remotamente, os últimos prédios da vila, o parque municipal…
…E o Tribunal – sentenciava o outro puto, o juiz imperfeito
Esta comunidade de anfíbios vivia a sua perene vida entre os montes e seus arredores e durante o dia evitava afastar-se do charco – ou lago conforme a chuva e a altura do ano – porque aqueles putos não eram de confiança.
Com o rei sapo viviam os seus súbditos: A princesa batráquia, o sapo gramofone, o anfíbio maratona,

E neste dia tão decisivo para o jovem Einstein, foi o sapo gramofone que decidiu dar vida à prova de desenho do pretendente a cientista sem vocação para a arte de desenho e invadiu a sala de aula aos saltos, de secretária em secretária, júris incrédulos e outros assistentes eufóricos por esta demonstração de natureza viva no salão de mestres de escola, velhos descendentes dos dinossauros…

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Cai névoa no Verão


Subitamente, mal a serra invade o mar, o nevoeiro antecipa a noite e ninguém se parece importar com isso; os putos jogam à bola, os surfistas lançam-se nas ondas e a piscina, um oásis de azul que se realça no cinzento da paisagem, permanece intocável, nas águas serenas e transparentes daquele enclave, que reflecte as sombras coloridas dos chapéu-de-sol.
Hoje, desprovidos de qualquer utilidade, abandonados nas margens das pistas olímpicas, jazem fechados, contemplativos desta obra do regime, que se mantém de pé, com uma dignidade épica, resistente às ondas do mar, aos persistentes nevoeiros que protegem a paisagem dos caprichos imobiliários e das fantasias de um turismo embalado, às revoluções e aos exílios dos refugiados da guerra pós-colonial, à moda de peles morenas num sol raro que por aqui se instala, na vertente norte do cabo mais ocidental da Europa.



Praia Grande, 1966 é, na essência, a mesma de hoje, não fosse a loja / bar e restaurante que alberga os surfistas, janelas abertas como se não houvesse inverno neste verão da costa, com uma música que se ouve e que se dança, os brincos pendurados nas orelhas dos transeuntes, os ecrãs LED que debitam ondas ruidosas dos ecrãs gigantes.
O anoitecer realça ainda mais esta inconfundível afirmação da predominância dos elementos na paisagem.
Tão raro, quanto a chuva que começa a cair, protegida do vento avassalador que varre o lado de lá do Cabo da Roca.
Ainda há lugares assim, para quem precisa de que a natureza agreste nos acorde das depressões terrenas!



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

MAC by Serralves


Calor abrasador, avenidas largas, parque imensos, vistas de uma grande burguesia de outrora.
Digno de um Marechal, apesar de provavelmente deslocado do tempo, da época e dos ideias de terceira república.
Num Sábado de Agosto não há vivalma nas avenidas e no horizonte sobram as marcas de uma miragem (água no fim da avenida?) e a arte confunde-se com a ânsia de fresco, forçado é certo, mas fresco.



MAC by Serralves, e não importam os autores porque a linguagem quer-se disruptiva.
Mas hoje, entre espelhos e jogos de luz, a linguagem é, em espaços, explícita, a arte é literal, sem grandes preocupações pictóricas, uma estética sem rodeios nem filtros, gutural mesmo!
O espaço, a quinta-pulmão da cidade aristocrática (confusão com burguesa, ou apenas uma diferente colocação na linha cronológica da cidade?) de grandes avenidas e ideais imperiais, promove a arte em grandes espaços, onde o espaço é, em si, uma catedral de reflexão futurista sem cantos desnecessários nem intromissões de autores mediáticos.
E o ar forçado, que nos reduz a temperatura à flor da pele em, pelo menos, quinze graus, ajuda muito a entender a arte contemporânea de vanguarda!



quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Inter Rail Virtual – Destino de um velho reformado no século XXI




(NA: G. partia no Sud Express e mandava perguntar qual o museu que conhecia em Berlin, porque um velho – mais velho do que eu – queria-lhe explicar os museus imperdíveis…)
05/07/2013 01:08
N. – Museu Pérgamo!
06/07/2013 10:18
N. – O que disseste à mãe não pode ser verdade. Se tu chegares a uma gare, fores a uma bilheteira e disseres que tens um inter rail e queres reservar bilhete, eles podem responder que precisas de reservar com duas semanas. Mas i IR é um bilhete de livre acesso na esmagadora maioria dos comboios da Europa SEM NECESSIDADE DE RESERVA, nas centenas de comboios que saem de Paris para todo o lado, todos os dias. Agora quando chegas a uma gare não te deves dirigir a uma bilheteira, (que servem para reservar bilhetes), mas às informações só para confirmar quais são os comboios (que são quase TODOS), que podes saltar lá para dentro sem ires às bilheteiras e sentares-te num lugar que estiver vazio. Isto é só para não teres surpresas.
(N.A – O problema dos velhos reformados é que têm uma tendência para querer explicar o século XXI à luz das ideias ultrapassadas do século passado – afinal de contas muitos anos de experiência, fora do contexto, não sevem para nada. Obviamente que N. não tinha razão e G. continuou a pagar suplementos exigidos pelos caminho-de-ferros nacionalizados da Europa. Como diria o reformado, o mundo já não é como era!)
09/07/2013 9:36
N. – Uma pequena sugestão à volta…não deixes de ir a Florença! É um pequeno desvio de três horas e nada em Itália vale a pena, se não conheceres Florença. O ideal é chegares de manhã e procurares um Hostel (prepara-te que em Itália tudo enche nesta altura) tirares o dia para passeares porque a cidade é concentrada e, num dia, dá para ficares com uma ideia, procurares umas tabernas fora do centro, para comeres umas pastas fantásticas a preços simpáticos e gozares a movida das noites de trinta graus. Se tiveres cinco dias para regressar, tens tempo. Organiza a viagem de regresso nessa base e não te vais arrepender!
N.A – Aqui, o velho brilhou!
10/07/2013 12:40
G. – Liga-me quando puderes!
11/07/2013 19:20
G. – Olá. Estive a fazer contas, mais ou menos. E, com as taxas que pagámos e o hostel, tenho 127€ e ainda tenho kunas. Deva chegar para chegar a casa. Mas, se puderes, manda-me mais para pagar os hostels. Eu vou pagar o do D. Descontas na próxima mesada!
15/07/2013 15:07
G. – Olaa. Vê-me só os comboios até Marselha. A sair daqui às 9:53, se der!
15/07/2013 16:18
N. – Do que eu vi, a melhor opção é ires a Milão, pelo que deves apanhar um comboio que saia de Florença para Milão para que tenhas tempo de apanhar o comboio que sai de Milão para Ventimiglia às 11:10. O roteiro sugerido é o seguinte:
Firenze 9:00 Eurostar ES 9508 Milão 10:40 (deves ter de reservar lugar)
Milão 11:10 IC 741 Ventimiglia 15:07 (deves ter de reservar lugar)
Ventimiglia 15:47 RE 86038 Nice 16:35
Nice 16:55 RE 17490 Marselha 19:29
Procura logo reservar (se for obrigatório) até Ventimiglia. Verifica este itinerário em Firenze. Provavelmente há uma alternativa de Firenze a Milão sem excesso, mas aí vais ter provavelmente de sair mais cedo. Sei que há uma opção via Pisa e Génova para saíres por volta das 7:50 de Firenze.
No dia 17 tens de sair de Marselha às 6:18 para Toulouse (comboio 4752), com chegada às 10:12 e partida às 10:36 (comboio 14143) e chegada a Hendaia às 14:57. Confirma isto em Marselha quando chegares!
(N.A – Aqui a experiência do velho foi importante, eu diria mesmo preciosa…só falhou em França porque, devido a algo misterioso que só acontece no país do RTT, eliminaram o comboio por Montpellier e teve de ir a Bordéus: mais um suplemento mas chegada com cinco minutos de diferença. Estava a começar a ficar muito orgulhoso de mim!)
15/07/2013 21:09
N. – O limoncello estava bom? Estás teso e bebes para esquecer? O roteiro para amanhã está controlado? Alguma vez conheceste uma cidade assim? Comedores de fogo na Piazza di Signoria?
15/07/2013 21:25
G. – Nunca. Muito bom mesmo. Limoncello para relembrar mais tarde esta cidade. Tudo controlado!!.Dou notícias em breve
16/07/2013 07:09
G. – “Arrivederci” dizem eles por aqui. Eu digo “grazie” ao “special one” da coisa (N.A: eu) pela sugestão súbita desta ligeira e enriquecedora passagem. Agora com o embalo, por norma retardado, destas locomotivas italianas, refletindo a sua preguiça e despreocupação, aguardo a chegada a uma terra mais perto de casa
(N.A : O puto está a ficar bom!)
16/07/2013 12:09
N. – Gostei dessa do special one…mas a mãe ficou com ciúmes! Pelas minhas contas, e se não perdeste comboio nenhum, já deves estar a caminho de Ventimiglia…agora vê se não dormes porque a viagem pela Côte D’Azur é muito agradável…assim uma espécie de linha de Cascais dos (muito) ricos. E vê se estás atento entre ventimiglia e nice porque vais ter a oportunidade de ver o Mónaco ao longe, por uns, muito breves, minutos!
16/07/2013 12:21
G. – Sim, estou a caminho. Só tive de pagar 18€ no comboio…o gajo em Firenze disse que não era preciso. Então tive de pagar no comboio.
16/07/2013 12:27
N. – O tipo de Firenze não era o special one…Esqueci-me de te dizer que os italianos não eram de confiança…mas pensei que soubesses. Como estão de massa? Ainda têm dinheiro para jantar hoje? Sem limoncello, claro! Em Marselha, o destino de passeio é o Vieux Port! Agora não podes dizer que os gajos não te entendem…pratica o francês!
16/07/2013 12:35
G. – Vou ver quando chegar a Marselha. Deve dar. O Limoncello barato! Depois digo quando chegar. O meu problema é as taxas. Não sei quanto paguei de taxas
(N.A: Pois, no tempo do velho não havia taxas, porque não havia multibanco, não havia suplementos porque não havia multibanco, nem telemóveis, nem internet para marcar hostels à distância, nem hostels – chamavam-se albergues e fechavam as portas às 23:00; o velho também não sabia quais eram as taxas porque passou os códigos do homebanking – também não havia isso – do G. para ele, e ele esquecera-se dos códigos e as caixas dão dinheiro mas não dão saldos. Outra falha do velho que se esqueceu de o avisar, porque as tecnologias são do tempo deles mas dinheiro é com os velhos)
16/07/2013 16:47
G. – Aviso quando chegar a Marselha
16/07/2013 21:25
N. – Hostel OK? Jantarinho OK?O Porto Velho OK? O stress já passou? Já confirmaste a que horas chegam a Hendaia? O Sud-Express é às 18:40, não é?
(N.A: O stress a que se referia devia-se ao facto dos franceses estarem com a mania de fazer up-selling nas bilheteiras)
16/07/2013 21:36
G. – Hostel fixe. Jantarinho nice. Porto Velho muito bonito. Chego a Hendaia às 15h…confirmo lá. Mais uma vez obrigado pela ajuda!
17/07/2013 22:10
N. – Já os tiraram dos lugares? Já pagaram (o excesso)? Jantarinho? Oriente a que horas? 7:20?
(N.A: O Sud- Express é o desapontamento supremo do serviço público. Só reservam a ida, não permitem reserva da volta, não conhecem a Internet e só permitem comprar os lugares de volta em Irun. O comboio estava cheio a três horas da partida e quem tinha inter rail que se lixe: - Amanhã em vagão cama, 90€ porque o IR acaba hoje, sinto muito mas é um problema da CP – resposta do basco empregado de bilheteira despreocupado. N. bem tentou explicar por email à CP que um Sud- Express que se preze não deixa nunca português em terra, mas foi o revisor espanhol que teve pena deles e os meteu no comboio a cinco minutos das 18:40.  E a CP nem respondeu…até hoje!)
17/07/2013 22:22
G. – Paragem preciosa em Valladolid com a certeza da nossa chegada ao Oriente português pelas 7. Com una sandes de pollo, paira a insegurança destes, para nós, maravilhosos tronos. Mas, para já, abusámos destas plazas! Com esta rara simpatia espanhola. Sentimo-nos confortáveis nesta ultimo viaje hasta casa
18/07/2013 7:02
G. – Descobri agora que está 45m atrasado.
18/07/2013 7:03
N. – Ganda cromo!
18/07/2013 7:06
G. – Entroncamento, agora
18/07/2013 7:09
N. – Cromo 2 vezes! A hora de horário era 7:20 e não 7:00. E está 59m e não 45m atrasado. Portanto para chegar às 8:20. Acabaste de me roubar uma hora de sono!
18/07/2013 7:11
G. – Eu não sei essas coisas, Ninguém informa aqui! Mas vá, desculpa lá!



(N.A. Obrigado G. por deixares o velho ir no comboio virtual. Foi quase como se lá tivesse estado!)

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Beef Stuff



Na marina de Albufeira, três espécimenes súbditos de SM e respetivos herdeiros (de Sua Majestade), lambem gelados na esplanada, numa manhã de calor abafado e céu azul cinza.
Gordos, mesmo muito gordos.
Estes não vão partir nos cruzeiros aventura, “fishing experience”, “Jet Boat” e outras alucinações aquáticas, expedições a praias e a grutas.
Mas as dezenas de loiros que descem as escadas deste complexo de cores garridas e arquitetura infantil, saltam para os botes com uma alegria de parque temático, como se o mar do Algarve fosse uma Adamastor mediterrânico e os golfinhos fossem tubarões brancos esfomeados de beef.
Arranjaram finalmente uma utilização para esta obra folclórica de regime – em fase acelerada de falência – que continua a ser uma ilha fantasma rodeada de construções inacabadas!
No “Cape Coal Handle” aterramos numa qualquer colónia britânica nas caraíbas, não há lusos na praia, a bica tem acento e os souvenirs são mais caros que as lembranças.
No clube náutico de Ferragudo, os gins tónico servem-se em copos de balão e o Peter, o John e Alice, despejam os balões como jarros de limonada selvagem.
Numa praia perdida entre as arribas do cabo central do Algarve há um pirata que serve pizzas num barraco de madeira em decomposição projetada, bifes e outras carnes cobertas de algas e refasteladas à sombra das arribas, que tem sinais de derrocada iminente
Bife para todos os gostos