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domingo, 24 de março de 2013

Harbour



A noite, instala-se sobre o porto, para cá do mar revolto, numa agitação metálica que se resguarda por detrás da intimidante vedação (metal afiado rompe o céu sem cor) esbatida entre o escuro ou chuva que (ambas) esborratam as luzes de tom industrial, amarelas como nos filmes, e nós sentimo-nos personagens principais do primeiro episódio do Leixões Vice, “achas que podemos ser sequestrados?”
Parece mesmo um filme, pá!
“Aquele mercedes tem gato”, imaginem um anel dourado, do tipo cachucho a sair do automóvel no meio dos guindastes, e ele controla o movimento com um pestanejar insensível, olhinhos de gangster que brilham no crepúsculo, como um reflexo dos candeeiros que apenas servem de farol, sem foco nem claridade.
Afastamo-nos para a ponte metálica, a vista de cima é melhor e o seguro morreu de velho…longe é sempre melhor que perto, não vá o submundo estar de olho em ti!


E se a ponte se levanta sem aviso, agora que passámos o torniquete de segurança, debaixo de uma chuva promissora e de alerta máximo na cabine daquele monstro mecânico, que permanece vazia e silenciosa…
Mas ele lembra-se das histórias do Speddy Gonzalez, não há comboio visível no deserto e, de repente, zás!
Entre o porto e a cidade, novos avisos de que o Inverno é psicológico!


Cá em cima o céu cinzento despeja adrenalina em estado líquido e o elétrico (perdão, o metro) amarelo, compõe de cor o que a meteorologia insiste em nos castigar de cinzento
Fechei a janela do tempo – os entendidos dizem que fotografia industrial é entre o por do sol e o nascer da (qual?) lua – e saltei da ponte antes que ela cedesse aos ímpetos do lobo mau (o do Speddy, claro!)

sábado, 23 de março de 2013

Surf In L.E.Ç.A


 
O inverno é psicológico, esta é a filosofia de surfista! Nada no ambiente envolvente nos remete para um qualquer spot famoso; sol, calor, biquínis ou mesmo ondas torneadas
Absolutamente nada me faria pensar nas dezenas de golfinhos humanos das cristas geladas do mar de Leça que espreitavam por cima de uma espuma cinzenta, um mar que se adivinha baço e opaco como o Inverno que se encrespa nas ondas de principiante lamacento.


O desolador areal amarelado e abandonado à agreste nortada de um tempo impio, contrasta com a agitação marítima, confusa e sem nitidez, escura como o mar de breu.
Deserto e Oceano, atravessar o deserto para atingir o mar.
Com os pés afundados nas pegadas frescas da areia solitária, faço contas de cabeça e procuro os mais rebuscados simbolismos na indómita profecia bíblica.
As duas facetas, dia e noite do mesmo fim de tarde
Sem purgatório, diretamente da areia para as trevas, a escolha dos donos das pranchas é inequívoca
As muralhas do porto impedem que as ondas fujam para o abrigo sereno.
Se calhar é por isso que há surfistas em Leça!
De volta à terra firme, sem areias movediças nem rochas, as luzes do farol indicam-nos um caminho mais seco e seguro! 
 
 

quarta-feira, 20 de março de 2013

Porto Velho


Cheira a couves cozidas no centro da cidade, odor que se sobrepõe ao fumo das castanhas que se assam em avançado Março nas bermas dos passeios, esquinas da baixa, portas da estação de S Bento. Há rostos sofridos mas genuínos, populares sem sofisticação urbana, como se toda a ruralidade do país se reunisse naquela praça. Um destino final de dezenas de anos de migrações, um interior que desaguou na foz do rio, na cidade das oportunidades.
Nem os turistas que apontam as câmaras para as paredes de azulejo varrem as memórias dos cestos de vime que se deslizam desajeitadamente dos trens a vapor, escadas abaixo, olhares assustados de passados marcados, futuros incertos!
Num mundo que vivia a preto e branco, as merendas eram a ultima ligação ao espaço de conforto, no fim da linha, no fim da rua.
Paira na alegoria do trânsito confuso, uma sensação bizarra de que há seres que ali deambulam há anos, para absorver as saudades das origens, de um lugar que verdadeiramente nunca chegaram a conhecer senão em memórias juvenis incompletas, como se o túnel de S.Bento fosse uma máquina do tempo que os transporta para uma ilusão sem retorno.
Hoje a cor é cinzento, pelo passado preto e branco e pela espera persistente mas sem esperança,
O elétrico chamado Carmo desce de costas os Clérigos em direção ao rio, a praça e porque não (todos os rios desaguam no mar) para o mar.
Amarelo na manhã e nos tons de cinzento da cidade (que se assume escura por herança histórica) e um Sol que trespassa a cidade chuvosa em carris de ferro.
Um sol chamado Carmo quando visto de costas e Batalha quando lançado sem freios pela rua abaixo, pela calçada acima.
Perdemos de vista o elétrico chamado (desejo) Sol na curva de Sá da Bandeira e divergimos avenida acima à procura dos dragões e da origem do burgo.
 
 
Catedral e D.Pedro, uma paisagem remendada pelas gerações de história, torres de catedrais ou telhados de zinco, a evolução da história não foi uniforme, a riqueza e a mediocridade em alternância com mentes brilhantes ou tempos de penúria, sem apelo nem vontade.
Vista de Gaia, a cidade velha é mais simétrica e menos remendada mas incomensuravelmente menos humana, não se vislumbram os lençóis ao vento, os cheiros característicos do mofo urbano que se impregna nas pedras encardidas a cada olhar, a cada passo incerto, escadaria abaixo pelas vielas em direção à Ribeira.
 
 
A ver o rio, (debruçados sobre a margem) vive um povo que aspira virar ao contrário o curso da corrente do Douro, barragens acima, encostas envolventes de um verde vinícola e se prolonga nas origens de um vale que se verteu para a cidade em décadas de incontroláveis e imprevisíveis inundações.
Só as gaivotas aproximam este microcosmos do mar latente!
 
 

domingo, 10 de março de 2013

Príncipe Real District


Regressados à superfície no jardim das Amoreiras, perco-me outra vez na alma surrealista de Arpad Szenes – Vieira da Silva que me confunde os sentidos, não fosse a magnífica força interior e fotográfica da reportagem sobre os desastres de guerra da transmontana Graça Morais.
E assim começa o roteiro da arte, do requinte e do vanguardismo que assola as colinas da Lisboa de design de autor em todas as fachadas e interiores com vista para o vale e para a cidade.
Uma grande e colorida vista desafogada sobre o mundo

Retomamos aqui a vida terrena com todo o esplendor do Sol de Março!

Underground



Quando descemos as escadas entramos no mundo das entranhas, um hibrido de cores amareladas e um preto e branco, sépia desfocada pelo arrasto das luzes de um trem que se esconde nas curvas escuras dos tuneis eletrificados.

Entorpecidos pelo ronco feroz do monstro das profundezas, não há seres vivos que ousem desafiar a sua surreal e breve vida subterrânea entre as escadas e a superfície, numa auréola de silêncio interior, rodeados de uma multidão de sonâmbulos ruidosos que se embala pelo som dos trovões da caverna

É como se suspendêssemos a vida terrena por breves momentos!

terça-feira, 5 de março de 2013

Um Ocean(ári)o à beira rio



 
Em tarde de BTL , a EXPO veste-se de tons pardacentos e os pássaros estão nervosos.
Predomina o cinzento num Sábado à tarde de chuva latente
As aves humanizadas agitam-se em torno do gigante de vidro, uma massa de água salgada e vida selvagem, impacientes pela falta de disponibilidade do Oceanário em os acolher.
 
 
Humanos de fora, selvagens no casulo protector da tempestade que chega apressada dos mares da Madeira.
Pura discriminação dos pássaros humanizados!