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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ushuaia – O princípio do fim do mundo



Bem-vindos ao Aeroporto Internacional das ilhas Malvinas, em Ushuaia – estas simbologias não podem ser ignoradas!
São reveladores de um povo – Um dos aeroportos mais bonitos do mundo, segundo especialistas independentes!
Nas portas do fim do mundo, revela-se uma activa e agitada marcação de fronteiras (os chilenos não se esquecem de classificar um condutor desastrado como um tipo mais perigoso do que um argentino a desenhar fronteiras!) e pressente-se uma afirmação de princípio, que o fim do mundo a Sul lhes deve prestar vassalagem.
Ushuaia, a cidade mais ao Sul do mundo, debruçada sobre o canal de Beagle, fim do mundo, Terra do Fogo.
É um bilhete de identidade impressionante.
E o canal de Beagle, que entra pela cidade adentro, numa baía reconfortante, num porto que recebe, alimenta e incentiva os aventureiros da Antárctida, os cargueiros ferrugentos que sulcam os mares esquecidos do Sul, longe do tráfego e das grandes rotas mundiais.
Os cumes gelados enquadram a cidade nas suas costas, dando-lhe um ar mágico, majestoso, donos da última fronteira, na terra e no mar.
À medida que nos afastávamos da baía para o canal, à procura do farol mais fotogénico do mundo, sonhando com os leões-marinhos e outros seres flutuantes, tomámos consciência da força do mar, ausentes nos lagos, virtual na terra.
O apelo do marinheiro ou do adorador do mar.
Aventura ou contemplação?
É, desde logo, o cheiro a maresia e as marés, a ondulação ou a crispação, os cargueiros que povoam os portos…
Sim, os portos!
Visto ao longe que se afasta, Ushuaia revela-se aos leões-do-mar, um porto de abrigo sem mácula, encosta acima, cores vivas, os seus guardiães brancos.


É assim que se criam os mitos.
A cidade torna-se mais pequena, mesmo minúscula, mas o canal não a abandona.
Os aviões continuam a aterrar no aeroporto, a pista debruçada sobre o canal!
A vida marinha no canal é fascinante: tão perto e tão selvagem
Os leões-marinhos são os reis da ilha dos Lobos, lentos, preguiçosos, conscientes de quem manda e porque manda.
Umas aves tipo pinguim são os hóspedes dos lobos, mas ocupam os lugares menores.
A vida selvagem tem códigos próprios…
O mar agita-se e a vida descobre-se: albatrozes, gaivotas…
E o farol deixa-nos aproximar dele, contorná-lo, fotografá-lo.


Pudera; é o farol do fim do mundo!
Mas é lindo, cheio de significado, provavelmente com pouco uso!
Mas o estilo e a personalidade não se perdem com a falta de uso.
Está frio no fim do mundo!
E irá nevar nas encostas da cidade.
Mas em terra, Ushuaia torna-se menos personalizada, mais anárquica e mesmo, por vezes, miserável… quatro quadras acima do mar!
Falta de ordenamento e incapacidade de resposta dos organismos públicos – dizem eles
Terra franca, e a conquista desenfreada (e necessitada) do Sul, explicam as barracas que pululam na cidade, hoje aqui, amanhã no morro de cima.
São os fenómenos do Far (West) South!


Mas estão longe os tempos da colónia penal, uma moda de povoamento forçado que perdeu adeptos (e ganhou opinião pública) após a segunda guerra mundial.
Mas transformar o inóspito, longínquo e desesperado em terra de oportunidades não tem sido, certamente óbvio (pelo menos sempre)
O tunning ganhou adeptos nas ruas de Ushuaia…e há mais que um!
Moda de longínquo Sul? Ou um reflexo de baixa auto-estima esporádica?
Sonhamos com as expedições Antárcticas, debruçados sobre as luzes da cidade, o temporal e a neve nesta noite de Verão que começa tarde mas é gélida!


Circulamos em torno de nós próprios e aproveitamos a luz até ao último suspiro.
Do dia, da neve nos montes, dos barcos enferrujados na água…
Uma rua, uma fotografia ou simplesmente inspirar o ar gélido que provém do sul.
São 23:00 horas, e não é nada vulgar respirar um fim de tarde destes em lado algum.
Vista do alto, a noite invade o vale, as luzes despontam da terra, mas os montes, ao fundo, permanecem brancos.
Custa fechar os olhos, seja pelo que for, é um local mi (s) tico!
Por isso (ou provavelmente não) fomos expiar as culpas do fim do mundo…de manhã, neve e Sol, tudo muda na fronteira dos 400 metros de altitude.
O Tren de Fin do Mundo conta-nos a novela dos mau maus agrilhoados às barras do comboio.
Hoje, os maquinistas Avelino e Marcelo não nos chicotearam mas também não nos sorriram…nem os vimos!


Chegámos ao final da ruta 3, 3079 quilómetros da beleza impura que se chama Buenos Aires.
Menos místico, mais postal…e a certeza de que afinal não éramos presos do fim do mundo, mas com sabor a novela na boca.
O parque Nacional, provavelmente um paraíso para os naturalistas convictos, e coleccionadores de tesourinhos deprimentes!
A Centola na Tia Elvira - e um vinho branco argentino com muitos graus acima da latitude de Ushuaia - supremos consolos para a alma, a olhar o Via Australis….

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